terça-feira, 19 de outubro de 2010

Familiares das vitimas de explosão em Santo Antonio de Jesus pedem justiça


Depois de 12 anos da explosão de uma fábrica de fogos clandestina que matou 64 trabalhadores em Santo Antônio de Jesus, a 184 km de Salvador, os considerados responsáveis pelo acidente vão a júri popular, na próxima quarta-feira (20), no Fórum Ruy Barbosa. 

São oito réus, a maioria da família de Osvaldo Prazeres Bastos, dono da fábrica. São eles, o próprio Osvaldo Prazeres Bastos, Mário Froes Prazeres Bastos, Ana Cláudia Almeida Reis Bastos, Helenice Froes Bastos, Adriana Froes Bastos de Cerqueira, Berenice Prazeres Bastos da Silva, Raimundo da Conceição Alves e Elise de Santana Brito.

Integrantes do Movimento 11 de Dezembro, criado pelos sobreviventes e familiares das vítimas da explosão, apoiado pelo Fórum de Direitos Humanos, estiveram em Salvador na última semana para tentar mobilizar a sociedade e a imprensa para apoiar a causa. Eles pretendem fazer um ato ecumênico na noite anterior ao júri, no dia 19, às 19 horas.
Rosa Santos Rocha perdeu parte da família na tragédia. Três irmãs dela, Mônica Santos Rocha, de 22 anos, Adriana Santos Rocha, de 15 anos, e Fabiana Santos Rocha, de apenas 13 anos, morreram quando trabalhavam dentro da fábrica. No dia do acidente Rosa, que também era funcionária, deveria estar produzindo fogos, mas não foi trabalhar. Rosa se diz inconformada com a demora do processo e pede que os considerados culpados sejam punidos. "O que a gente quer é que a justiça aconteça, que de fato os jurados se sensibilizem com a nossa história e façam justiça", afirma.

A presidente do Fórum de Direitos Humanos, Ana Maria Santos, reclama da falta de atenção do poder público para o caso e da falta de fiscalização para a prevenção de novos acidentes. "O que podemos ver é a omissão do Estado e da Justiça, pois hoje o que fala mais alto é o capital e capital essas famílias não tem", afirma.
De acordo com a Ana Maria, mesmo tendo ocorrido um acidente de tão grande proporção as atividades ilegais continuam na cidade. "Os empresários continuam fabricando fogos clandestinamente. Na maioria das vezes eles levam a matéria-prima para o povo, que produz na própria casa. Isso é uma afronta aos Direitos Humanos e às famílias das vítimas da tragédia", denuncia.

As fábricas sem autorização de funcionamento, segundo a presidente do Fórum, também funcionam em fundos de quintais e os funcionários não tem os direitos trabalhistas garantidos, pois não tem as carteiras de trabalho assinadas. Atualmente os trabalhadores ganham apenas R$0,70 para enrolar um milheiro de "estalinhos".

História

A fábrica clandestina de fogos de Osvaldo Prazeres Bastos explodiu em 11 de dezembro de 1998, causando a morte de 64 trabalhadoras. Apenas cinco sobreviveram. No local trabalhavam mulheres e crianças, em regime quase integral, que recebiam apenas R$ 0,50 pelo milheiro de “estalinhos”.

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